No primeiro dia de visitas do Conselho dos Embaixadores dos Países Árabes em Santa Catarina, o recado foi claro: unidos com o Brasil, os 21 países da Liga Árabe formam um mercado gigante de U$ 5 trilhões de PIB (Produto Interno Bruto) que precisa ser melhor explorado. As principais oportunidades estão nos setores de alimentos e construção civil, mas a industria têxtil e metal-mecânica também deve ter oportunidades. Na segunda-feira, a missão diplomática que contou com 10 embaixadores árabes e um brasileiro se reuniu com políticos e empresários do Estado.
Dos 21 países da Liga Árabe, embaixadores de 10 países (Palestina, Sudão, Argélia, Omã, Catar, Egito, Marrocos, Tunísia, Kuwait e Jordânia), além de encarregados de negócios de outros dois países (Arábia Saudita e Mauritânia). A comitiva segue para Brasília nesta terça (29) à tarde, após visitas à UFSC e empreendimentos comerciais na Grande Florianópolis.
Apenas em alimentos, as exportações brasileiras para países árabes chegaram a R$ 5 bilhões no ano passado. O diretor do Departamento de Oriente Médio do MRE (Ministério das Relações Exteriores), embaixador Carlos Ceglia, falou as perspectivas de negócios. “O comércio atual entre o Brasil e a Liga Árabe só aproveita 0,5% do PIB das regiões, somados. É preciso fazer mais, pois a concorrência internacional é forte”, destacou o representante do Itamaraty.
Em 2013, as exportações catarinenses para os países árabes foram de US$ 607,16 milhões, lideradas por carne de aves, tabaco e motores elétricos. As importações ficaram em US$ 149 milhões, com destaque para sardinha, ureia e polietileno. Para melhorar esse mercado, o governador Raimundo Colombo recebeu a comitiva pela manhã e mostrou alguns pontos fortes da economia catarinense, como a logística portuária. “Nós e os árabes temos uma tradição muito boa, mas pode e deve melhorar. Essa visita procura aumentar a relação comercial e turística entre as partes. É uma oportunidade privilegiada”, declarou Colombo.
Para atrair mais investimentos, vale até usar a Copa do Mundo como desculpa. Em junho, durante a competição entre seleções de futebol, cerca de 2.500 torcedores argelinos vão se hospedar em Balneário Camboriú. Nessa época, a embaixada da Argélia pretende organizar um seminário econômico. “Queremos melhorar as relações entre o nosso país e Santa Catarina. Acreditamos que falta conhecimento sobre as oportunidades que podemos criar”, disse Djamel Eddine Omar Bennaoum, embaixador da Argélia no Brasil.
Doze missões em 10 anos
A Fiesc (Federação das Indústrias de Santa Catarina) já organizou 12 missões de empresários em países árabes nos últimos 10 anos. O resultado está no crescimento de 363% na relações comerciais entre o Brasil e a Liga Árabe. No entanto, nos últimos dois anos, houve uma queda de investimentos dos dois lados. “Temos uma corrente de comércio que cresceu bastante nesse período, mas está claro que precisamos melhorar. Temos uma ótima estrutura nos setores de alimentos, metal-mecânico e também da construção civil, onde eles estão com grande potencial de investimentos”, argumentou Glauco Côrte, presidente da Fiesc.
Durante o primeiro dia, a comitiva visitou o governador Raimundo Colombo pela manhã, almoçou na Fiesc e depois se reuniu com o prefeito Cesar Souza Júnior (PSD). “São encontros políticos, com empresários e acadêmicos. É uma oportunidade para que todos se conheçam. É o início de um trabalho que temos pela frente”, explicou Marcelo Nabih Sallum, presidente da Câmara Árabe.
De olho nas oportunidades
No almoço na Fiesc, empresários catarinenses puderam conhecer os representantes dos países árabes e oferecer trabalhos. O encarregado de negócios da Arábia Saudita, Ibrahim Aleisa, apontou as principais necessidades daquele país. “Queremos produzir alimento no Brasil para levar à Arábia Saudita, por uma questão de segurança alimentar. Além disso, queremos construir 500 mil casas populares na Arábia Saudita e isso é uma boa oportunidade para construtoras locais”, disse o representante do país árabe que tem a maior relação comercial com Santa Catarina. O Estado exportou U$245 milhões e importou R$42 milhões em 2013.
O empresário Renan Beltrão, sócio de uma empresa de logística internacional, não perdeu tempo e puxou conversa com o encarregado árabe. “O primeiro representante que eu fui falar foi o da Arábia Saudita, pois ele falou sobre a construção de casas populares. Nós temos um projeto de casa de material PVC, que sai bem mais barato que o convencional. Já construímos a primeira na Guiné Equatorial, na África”, contou.