A mensagem prudente do BC

Três palavras – cautela, serenidade e perseverança – explicam por que os juros básicos foram mantidos pela sétima vez em 6,50% na última reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). Além disso, resumem a principal mensagem a quem supervisionar a moeda e o crédito a partir de março. Até lá, o economista Roberto Campos Neto, indicado pelo presidente Jair Bolsonaro, deverá ter substituído Ilan Goldfajn na presidência do BC. Antes disso, ele passará por uma sabatina no Senado, provavelmente ainda em fevereiro. Se o novo presidente e seus companheiros de diretoria seguirem a recomendação, a taxa básica de juros, a Selic, será quase certamente mantida no patamar de hoje, exceto se algo muito importante mudar o cenário econômico e as perspectivas da inflação. Esse fato poderá ser uma piora do quadro externo ou algum tropeço assustador na condução da política econômica.

As três palavras aparecem no penúltimo parágrafo da nota divulgada pouco depois de encerrada a reunião no BC. "O Copom", informa o comunicado, "avalia que cautela, serenidade e perseverança nas decisões de política monetária, inclusive diante de cenários voláteis, têm sido úteis na perseguição de seu objetivo precípuo de manter a trajetória da inflação em direção às metas."

A manutenção da Selic em 6,50% era apontada como certa pela maioria das fontes do mercado. Não houve surpresa, portanto, nessa decisão, mas surgiram detalhes novos na avaliação do cenário de riscos e na ênfase atribuída às condições de uma política segura.

Riscos associados à elevação de juros nas economias avançadas, especialmente nos Estados Unidos, perderam peso, segundo a análise resumida no comunicado. Dirigentes do Federal Reserve, o banco central americano, indicaram há pouco tempo a disposição de avançar mais lentamente no aperto das condições de crédito. Isso diminui o perigo de turbulências cambiais e de pressões inflacionárias associadas à valorização do dólar. Em contrapartida, riscos ligados a uma desaceleração da economia global tornaram-se mais importantes, de acordo com a análise do Copom. Disputas comerciais e incertezas quanto ao Brexit (o divórcio entre o Reino Unido e a União Europeia) estão entre os fatores inquietantes.

Mas um grande peso é atribuído também a um perigo interno: uma frustração de expectativas quanto a ajustes e reformas "pode afetar prêmios de risco e elevar a trajetória da inflação no horizonte relevante para a política monetária".

Ao insistir nessa advertência, já apresentada em outros informes, os membros do Copom lembram a importância de manter a confiança de investidores, empresários e consumidores no avanço das mudanças necessárias à recuperação da economia. O conserto das finanças públicas é item de máxima prioridade nessa agenda.

O tombo do mercado de ações na própria quarta-feira, quando surgiram temores de uma reforma da Previdência mais lenta do que previam investidores operadores da Bolsa, é um bom exemplo dessa sensibilidade. Esses investidores podiam estar errados em sua concepção de como a reforma deve tramitar, mas a queda de 3,74% do Ibovespa vale como um lembrete para o governo e para seus aliados.

A insistência em cautela, serenidade e perseverança, termos já usados num relatório de inflação, é um recado importante para os novos componentes do Copom. Combina com a defesa persistente de uma "política monetária estimulativa", isto é, com juros abaixo da taxa estrutural e favoráveis à expansão dos negócios.

Mas a mensagem é mais ampla e destinada também à equipe de governo. Parte do recado é implícita: juros mais baixos, só quando o ajuste estiver avançado, com a reforma garantida, e o risco de inflação for bem menor. A parte explícita é igualmente importante: o Copom pode ajudar o governo em sua tarefa, mantendo os juros atuais ainda por um bom tempo, mas só a ação efetiva do governo e de seus aliados poderá preservar a confiança do mercado. Falta ver se a mensagem será entendida.

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