Em 2020, o Brasil deve finalmente entrar em ritmo de crescimento mais acelerado, suficiente para que o desemprego baixe de forma perceptível. A expectativa é de Marcelo Kfoury, professor na Escola de Economia de São Paulo da Fundação Getulio Vargas (FGV EESP) e ex-chefe do Departamento de Pesquisa Econômica do Banco Central.
O pesquisador lembra que sua categoria, os economistas, vêm errando a previsão de crescimento: em 2017, 2018 e 2019, houve projeções de que o PIB avançaria em ritmo próximo de 2,5%, mas o resultado ficou pela metade, perto de 1,3% (o resultado deste ano não está fechado, mas deve ficar novamente próximo disso), insuficiente para que a maioria dos brasileiros sinta melhora no dia a dia. Kfoury brinca com esses erros repetidos ("relógio parado também indica a hora certa duas vezes por dia") e vê alguns sinais de que a expansão da economia em 2020 vai, afinal, aproximar-se dos 2,5%. Isso ocorrerá, na visão do economista, "apesar do presidente Jair Bolsonaro", e não por causa dele.
Entre os sinais positivos estão a maior demanda das famílias por crédito (com um nível ainda baixo de comprometimento de renda com dívidas); o início de reação do setor imobiliário em São Paulo; o aumento do nível de confiança do empresariado; o maior apetite de pequenos investidores por risco. O governo federal ajuda ao criar um horizonte de juros baixos e ajuste progressivo das contas públicas. "Poderemos ver esse novo patamar de crescimento se continuarmos com a política monetária mais frouxa e a política fiscal mais apertada", afirmou Kfoury durante o seminário "Primeiro ano do governo Bolsonaro", na Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, nesta segunda-feira (9/12).
Para o economista, o governo federal demonstrou comprometimento com a disciplina fiscal ao continuar insistindo no tema, mesmo após a reforma da Previdência, quando escolheu rever o pacto federativo e os fundos constitucionais, além de instituir o regime de emergência fiscal. Mas ele destaca que o presidente da República não se engajou pessoalmente por essas mudanças e que a retomada da economia, se ocorrer, será puxada pelo setor privado. Daí sua análise de que o crescimento virá "apesar" de Bolsonaro.
Kfoury diz não haver ainda sinais de melhora em indicadores fundamentais para a saúde da economia no longo prazo — a produtividade e o investimento produtivo. Mas acredita que apenas a capacidade ociosa nas empresas, deixada pela crise severa dos últimos anos, bastará para garantir o crescimento por alguns anos.
No mesmo seminário, o governo federal foi criticado por diferentes aspectos. George Avelino Filho, cientista político, destacou o fato de o presidente da República não se engajar realmente com a condução do governo no dia a dia (o que exigiria debate com o Congresso e os partidos — uma integração ao "sistema" que Bolsonaro parece querer evitar); Fernando Limongi, também cientista político, classificou como "irresponsabilidade política" a falta de empenho do presidente na aprovação de suas medidas provisórias no Legislativo; e o professor de Relações Internacionais Oliver Stuenkel alertou para a deterioração das relações com a Argentina, que pode se encaixar melhor no papel de "bicho papão" de um governo que gosta de buscar antagonistas externos.