Vírus traz nova ameaça à frágil estabilização da economia global

O surto do coronavírus ameaça interromper a frágil estabilização da economia global, que parecia se beneficiar do acordo comercial de primeira fase entre Estados Unidos e China e dos sinais de recuperação do setor de tecnologia.

Embora seja muito cedo para avaliar o impacto total na China, onde o feriado nacional foi prolongado e a cidade de Wuhan, na região central do país, está bloqueada, já está claro que o vírus afeta o consumo e o turismo.

A produção industrial também será atingida, já que as fábricas normalmente voltariam a operar a todo vapor após o feriado do Ano Novo Lunar, assim como o investimento privado. Esses fatores podem prejudicar economias dependentes da demanda chinesa. Os vizinhos asiáticos e exportadores de commodities devem sofrer o maior impacto, segundo a Bloomberg Economics.

Empresas globais, como Honda e Nissan, estão entre as que retiram trabalhadores da área afetada, enquanto operadoras de parques temáticos, cinemas, varejistas e redes de restaurantes estão suspendendo ou restringindo operações para proteger funcionários.

“O coronavírus de Wuhan representa um risco negativo significativo para o cenário econômico de curto prazo da Ásia-Pacífico em 2020 se a epidemia continuar a se espalhar nas próximas semanas”, disse Rajiv Biswas, economista-chefe para Ásia-Pacífico da IHS Markit, em relatório recente para clientes. “A extensão e a duração desse choque negativo para o crescimento econômico regional dependerão da rapidez com que a epidemia do vírus de Wuhan possa ser controlada.”

Marco zero
Wuhan sofre o maior impacto econômico. A cidade de 11 milhões de habitantes foi bloqueada em uma tentativa de conter a propagação do vírus, deixando estradas vazias e milhões de pessoas isoladas e ociosas.

A economia de US$ 214 bilhões responde por cerca de 1,6% do PIB nacional. É um centro vital de logística, fabricação de automóveis e aço na região central da China, ampliando o impacto da interrupção de viagens e produção no local.

“Cadeias de suprimentos complicadas e produção ‘just-in-time’ podem significar que os cortes de produção nas fábricas de Wuhan terão efeitos mais amplos”, de acordo com Shaun Roache, economista-chefe da Ásia-Pacífico na S&P Global Ratings.
Feriado mais longo
Assim como a quarentena de Wuhan e outras partes da província de Hubei, a China estendeu o feriado atual por alguns dias, e outras províncias como Xangai pediram que empresas atrasassem a retomada das atividades por mais uma semana. Essa paralisação prolongada afetará o lucro das empresas chinesas, prejudicará o consumo e também reduzirá a produção e as exportações industriais, pelo menos temporariamente.

Economistas ainda calculam os números sobre o impacto disso tudo sobre o crescimento do PIB. Relatórios recentes do UBS, Nomura e Barclays Bank se basearam no surto da SARS em 2003 para conseguir uma estimativa.

O Barclays estimou que a confiança do consumidor e o consumo seriam afetados, o que poderia reduzir o PIB em 0,1 a 0,2 ponto percentual no primeiro ou no segundo trimestre. Em toda a China, se os gastos com itens como transporte e entretenimento discricionários caíssem 10%, a expansão geral do PIB seria reduzida em cerca de 1,2 ponto percentual, de acordo com estimativas provisória de Roache, da S&P.

Impacto global
A Bloomberg Economics acredita que a atual composição da economia chinesa comparada com a do surto da SARS de 2002-2003 poderia ampliar o impacto, em casa e globalmente.

“Um papel mais importante para o consumo, turismo e outras atividades de lazer, aumento em massa das viagens e potencial que mercados em pânico atinjam a confiança, significa que os riscos são maiores”, escreveu o economista-chefe Tom Orlik.

Ainda assim, sempre há uma chance de que as economias também se recuperem rapidamente.

“A Ásia tem espaço para respostas de política monetária e fiscal, e esses choques de vírus tendem a durar pouco e causam uma trajetória em forma de V na atividade econômica, pois há muita atividade reprimida quando o vírus atinge o pico”, disse Rob Subbaraman, chefe de pesquisa macro global da Nomura Holding, em Cingapura.

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