Paulo Guedes: governo vai injetar R$ 750 bilhões na economia, contra o coronavírus, e pagar a conta em um ano

O minstro da Economia, Paulo Guedes, foi uma ausência sentida em Brasília na última semana. Enquanto boa parte do governo – incluindo integrantes da equipe econômica – anunciava medidas para enfrentar da pandemia de coronavírus na atividade de empresas e trabalhadores autônomos, ele estava no Rio de Janeiro. "Vocês querem saber? Eu fui despejado do hotel onde eu ficava", disse Guedes, em uma teleconferência organizada pela consultoria XP Investimentos. "O hotel ia fechar. Vários colegas no governo testaram positivo para o coronavírus, enquanto meu teste deu negativo. Resolvi trabalhar de casa, por telefone. Não tem nada disso de crise com o presidente Bolsonaro. Ele tanto confia em mim, que me convidou para ficar na residência da Granja do Torto. Vou para lá na semana que vem: eu, minha mulher, meu cachorro".

Numa conversa de duas horas (o vídeo está no fim do texto), Guedes admite que demorou a entender o impacto que o coronavírus teria no Brasil. “São três semanas e meia que nós temos a informação da gravidade do choque", diz. "Antes, todo mundo foi vendo que a coisa era séria, era séria, mas… achava que estava na China, depois foi para o Irã, depois passou para a Itália, foi uma mortandade, entrou na Europa… Aí nós começamos a nos preparar aqui, mas não tínhamos ainda a extensão”.

Ao perceber que a epidemia iria atrapalhar a lenta retomada da atividade econômica do país, o governo aumentou a circulação de dinheiro. "Liberamos R$ 200 bilhões de compulsórios, pelo Banco Central, R$ 150 bilhões de caixa do BNDES e mais R$ 150 bilhões de antecipação de benefícios e diferimentos de recolhimento de impostos e FGTS", diz.

Quando o presidente Jair Bolsonaro decretou calamidade pública, em 18 de março, o governo ficou livre para descumprir leis de responsabilidade fiscal. "Esse é um ano excepcional, então criamos uma camada de solidariedade", diz. "Criamos o plano de Auxílio Emergencial aos Informais, para os meses em que a tragédia nos atinge. Eles vão ter acesso a R$ 600 por mês. Isso vai custar quase R$ 50 bilhões, mas está muito bem empregado".

Paulo Guedes afirma que, além de assumir o pagamento de parte dos salários das empresas, o governo irá financiar outra parte. "Gastaremos mais R$ 50 bilhões para ajudar o empresário a pagar a folha. Se você reduziu 20%, 30% do salário, numa suspensão de contrato em livre negociação, nós vamos complementar. De zero a três salários mínimos, a complementação será quase integral. Até R$ 1.800, é a manutenção integral. Nós vamos pagar a parcela que as empresas não pagarem". O ministro diz que o plano ainda é uma intenção. "Nós ainda não anunciamos isso. A gente vai pagar uma parte do salário e outra parte o empresário vai poder financiar, de forma a poder atravessar três a quatro meses de turbulência".

O ministro da Economia diz que o governo vai anunciar a rolagem da dívida dos municípios – estendendo um benefício dado aos estados. Com todas as iniciativas, afirma, o incentivo direto e indireto passa de R$ 750 bilhões. "Se você pegar os R$ 200 bilhões de redução de compulsório, R$ 150 bilhões de BNDES e Caixa, R$ 150 bilhões de diferimentos de arrecadação e antecipação de benefícios, são R$ 500 bilhões", diz. "Aí você joga quase R$ 50 bilhões desse AEI (auxílios emergenciais aos informais), mais R$ 50 bilhões de complementação de folha de pagamento, mais R$ 40 bilhões com esse crédito Fopas (folha de pagamento salarial), mais R$ 88 bilhões para os governos. Não anunciamos ainda, mas, além de governos estaduais, vamos rolar a dívida dos municípios. Quando você bota isso tudo junto, já passou de R$ 750 bilhões". Guedes reconhece que o total de estímulos pode ser aumentado, se necessário. Nesta semana, o governo americano aprovou um pacote de ajuda de US$ 2 trilhões.

As ajudas devem custar ao Brasil entre 4,5% e 5% do PIB – um rombo nas contas públicas. "É um ano excepcional, o déficit dá esse tiro para cima", reconhece Guedes. "Não tem problema. Essa onda passa, são três ou quatro meses. Quando o impacto descer, temos que ter condições de começar a sair da crise rapidamente". Apesar do risco global de recessão, o ministro se diz confiante nas privatizações e na retomada dos investimentos para cobrir o rombo do coronavírus já em 2021. "Nós vamos pagar em um ano essas despesas do coronavírus", afirma. "Não vamos deixar para gerações futuras. Vamos desviar transitoriamente em um ano, mas vamos recuperar".

Conhecido por suas posições liberais, Guedes se diz confortável em fazer o Estado brasileiro assumir um papel ativista e indutor, semelhante àquele desempenhado pelo governo Lula após a crise global de 2008. "Ninguém tem nada contra uma engrenagem de assistência social. Nós temos contra uma transferência perversa, com privilégios", diz. "Fazer transferência de renda para os mais frágeis, principalmente no momento que temos agora, é uma obrigação. Nenhum brasileiro vai ficar para trás".

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