O Banco Central apontou uma "probabilidade relevante" de que a economia brasileira tenha recuado ligeiramente no primeiro trimestre deste ano sobre os três meses anteriores, mas manteve o discurso de que precisa de tempo para analisar a fundo o quadro antes de eventual mudança na rota dos juros.
Em sua ata do Comitê de Política Monetária (Copom), publicada nesta terça-feira, o BC enfatizou que o sucesso de reformas na economia, em especial de natureza fiscal, também desempenha um papel fundamental sobre a atividade, numa provável referência à importância da reforma da Previdência nessa equação.
"O processo de recuperação gradual da atividade econômica sofreu interrupção no período recente, mas o cenário básico contempla sua retomada adiante", trouxe o BC.
O BC avaliou no documento que alguns efeitos de choques vividos pela economia em 2018 ainda persistem e acrescentou que "incertezas sobre aspectos fundamentais do ambiente econômico futuro – notadamente sobre sustentabilidade fiscal – têm efeitos adversos sobre a atividade econômica".
"A manutenção de incertezas quanto à sustentabilidade fiscal tende a ser contracionista", afirmou.
"Reformas que geram sustentabilidade da trajetória fiscal futura têm potencial expansionista, que pode contrabalançar efeitos de ajustes fiscais de curto prazo sobre a atividade econômica, além de mitigar os riscos de episódios de instabilidade com elevação de prêmios de risco, como o ocorrido em 2018", pontuou.
Quando manteve a Selic na mínima histórica de 6,5 por cento na semana passada, o BC já havia reconhecido mais sinais de fraqueza econômica.
No entanto, ponderou que precisava de tempo para observar o comportamento da economia, livre dos efeitos remanescentes dos diversos choques a que foi submetida no ano passado e, em especial, com redução do grau de incerteza a que a economia brasileira continua exposta — mensagem que foi repetida na ata.
A economia brasileira tem mostrado dificuldade em avançar, em meio à alta ociosidade das empresas e incertezas sobre a situação fiscal do país, com agentes em compasso de espera pela reforma da Previdência, considerada crucial para reequilibrar as contas públicas.
Economistas têm sucessivamente revisado para baixo sua expectativa para o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB) neste ano. A projeção mais atual, segundo a pesquisa Focus do BC, é de uma expansão de apenas 1,45%.
A própria equipe econômica, que por enquanto segue esperando uma alta de 2,2% do PIB, já adiantou que cortará essa previsão, o que levará o governo a fazer novo bloqueio no Orçamento.
Cautela e Serenidade
Na ata, o BC afirmou que deixará de usar a frase de "cautela, serenidade e perseverança" a partir da próxima reunião do Copom, com o entendimento de que a mensagem já foi assimilada. Portanto, adiantou que a investida não deve ser interpretada como mudança de sua forma de condução da política monetária.
Em relação ao cenário externo, o BC voltou a dizer que ele continua desafiador. Por um lado, riscos associados à normalização das taxas de juros nas economias centrais mostram-se reduzidos no curto e médio prazos, ressaltou.
Mas os riscos associados a uma desaceleração da economia global permanecem, sendo que incertezas sobre políticas econômicas e de natureza geopolítica podem contribuir para um crescimento global ainda menor, acrescentou o BC.
Inflação
Após já ter ressaltado no comunicado do Copom que as projeções de inflação e os níveis de diversas medidas de inflação subjacente estavam em níveis apropriados, e não mais apropriados ou confortáveis, o BC destacou na ata que a inflação acumulada em 12 meses deve atingir um pico "no curto prazo", para depois recuar e fechar 2019 "em torno da meta".
Embora tenha acelerado, a inflação veio abaixo do esperado em abril, alcançando 4,94% no acumulado em 12 meses. O alvo oficial perseguido pelo governo neste ano é de um IPCA em 4,25 por cento, com margem de 1,5 ponto percentual para mais ou para menos.