O que limita o crescimento

O investimento está crescendo, mas em ritmo muito lento. Em agosto, o aumento foi de 0,3% em relação a julho, de acordo com o Indicador Ipea de Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF). Mas o aumento captado pelo índice – aferido mensalmente pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), vinculado ao Ministério do Planejamento – mal foi suficiente para compensar a queda de 0,3% observada no mês anterior, quando a economia ainda registrava os impactos negativos da irresponsável greve dos caminhoneiros.

O trabalho do Ipea contém também números que sugerem um quadro mais favorável para os investimentos. O indicador de agosto, na série com ajuste sazonal, é 3,5% maior do que o de um ano antes; e o resultado do trimestre terminado em agosto é 1,8% maior do que o dos três meses terminados em maio. No acumulado de 12 meses, o aumento também é de 3,5%.

A despeito do aumento expressivo na comparação anual, os investimentos continuam muito baixos, o que compromete o crescimento futuro da economia. Dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram que no primeiro trimestre deste ano a taxa de investimento na economia correspondeu a 16,0% do Produto Interno Bruto (PIB), acima do registrado em 2017 (15,6% do PIB). São proporções muito baixas se comparadas às observadas em países asiáticos que cresceram e se modernizaram nas últimas décadas. Nesses países, a taxa de investimento supera 25% do PIB; em alguns deles, aproxima-se de 40%.

No Brasil, porém, essas taxas têm sido muito baixas nos últimos anos, mesmo quando comparadas com o padrão prevalecente no País neste milênio. No seu início, a gestão do PT à frente do governo federal foi fortemente beneficiada por uma conjuntura internacional muito favorável, o que estimulou o crescimento da economia brasileira e os investimentos. A taxa de investimentos calculada pelo IBGE – que registra a ampliação da capacidade produtiva por meio das aplicações em construção e em máquinas e equipamentos, chamada de Formação Bruta de Capital Fixo, acrescida da variação dos estoques – passou de 16,4% do PIB em 2003, no primeiro ano do governo Lula da Silva, para 21,6% em 2008.

A crise financeira internacional fez essa taxa despencar para 18,8% do PIB em 2009, mas a recuperação foi rápida. Entre 2010 e 2014 – período que inclui o último ano da segunda gestão Lula e todo o período do primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff -, os investimentos sempre estiveram 20% acima do PIB, um patamar expressivo para os padrões brasileiros.

Mas, a partir de 2015, no início do desastroso segundo mandato de Dilma – interrompido pelo impeachment a que ela foi submetida em 2016 -, o quadro se deteriorou rápida e agudamente. De 20,5% do PIB em 2014, a taxa de investimentos cai para 17,4% no ano seguinte, 16,4% em 2016 e 15,6% em 2017. No ano passado, quando o gráfico da taxa de investimentos pareceu ter atingido o fundo do poço, começaram a surgir sinais mais consistentes de recuperação da atividade econômica. Isso chegou a estimular projeções mais otimistas sobre a aceleração do ritmo de crescimento, mas as estatísticas mais recentes contrariaram as previsões.

A baixa taxa de investimentos em 2017 foi atribuída pelos pesquisadores do IBGE ao tombo na indústria de construção civil – importante componente da FBCF -, que registrou queda de 5%. E, como o setor público tem forte participação no volume de obras civis, o tombo da construção foi atribuído aos cortes dos investimentos dos governos. Em períodos de crise fiscal, como a que assola as finanças da União, gestores de recursos públicos costumam reduzir os investimentos.

Será lenta, por isso, a retomada dos investimentos públicos. O crescimento nos próximos anos dependerá ainda mais dos investimentos privados, os quais estão condicionados à confiança que o futuro governo conseguir instilar no empresariado.

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